Sinopse
Bo (Aline Serra) acorda em um local desconhecido e escuro, sem se lembrar de sua própria identidade. Todas as pessoas do lugar celebram a presença da garota, como se ela fosse uma salvadora que veio para levá-los ao caminho da luz. Porém, Bo sabe tão pouco quanto eles e, juntos, todos se empenham para descobrir uma forma de se libertar da escuridão.
Sobre o Filme
O Poço, filme espanhol dirigido por Galder Gaztelu-Urrutia e disponível na Netflix, utiliza o roteiro da prisão para escancarar o individualismo humano dentro de uma óbvia divisão de classes. A produção apresenta uma premissa diferente de tudo o que estamos acostumados e que sem dúvidas fará o público pensar.
Há meses na prisão, o ancião explica para o jovem como funciona o dia a dia: não há contato com a luz do sol e nem tempo para esticar as pernas e se exercitar do lado de fora. A única ação que ambos têm durante todo o tempo é esperar por uma plataforma de comida que se move para baixo entre os andares todos os dias.
Preparado no nível zero, o luxuoso banquete fica em todos os níveis por apenas dois minutos antes de descer para o próximo. Nenhum preso pode segurar restos consigo, com o perigo de receber punição.
Conforme o tempo passa, eles terão com o que se alimentar e que os presos dos andares de cima pouco se importam com quem está abaixo. O único alento, e também o maior medo de quem vive no Poço, é que a cada 30 dias as duplas trocam de lugar aleatoriamente. Quem está no nível um pode ir parar no 148, e quem está no 148 pode ir para o nível um. Essa dinâmica força com que todos os presos passem pelas mais diferentes situações, o que em alguns casos pode significar atingir o limite que um ser humano pode chegar ao tentar manter a sanidade passando muita fome.
Dessa forma, ninguém é beneficiado na prisão, mas quase todos resistem obstinadamente às mudanças, incentivando cada indivíduo a comer o máximo que puder enquanto estiver em situação favorável.
Contudo, se todos comessem uma pequena porção, haveria comida para todos, e assim ninguém passaria fome. Mas como fazer essa mensagem ser notada quando quem tem em abundância apenas quer mais, enquanto os que não têm nada vão se transformando em canibais.
O diretor do longa-metragem, Galder Gaztelu-Urrutia surpreende com uma narrativa que usa elementos de filme de horror para dissecar a estrutura socioeconômica que vivemos perante o capitalismo. É uma metáfora sobre os horrores desse sistema, no qual cada indivíduo se debulha durante o seu tempo no topo, enquanto as massas invisíveis no fundo se comem vivas.
O filme é escuro transmite a sensação de medo e desespero. A luz vermelha usada no momento em que os prisioneiros dormem, colabora para transmitir inúmeras sensações. Em muitos momentos, a câmera foca nos personagens a ponto de deixar o espectador claustrofóbico.
O Poço é um longa metragem que entretém ao nos deixar curiosos e fascinados com aquela realidade. É um daqueles filmes que nos dá tapas na cara ao mostrar, mesmo que numa situação absurda, como a nossa humanidade está se dissipando. É pesado, é sangrento e mostra o pior que pode ser extraído de nós numa situação extrema.
Realmente, requer um estômago forte, especialmente quando vemos o que acontece nos níveis mais baixos, mas o fato de existir uma ideia maior faz com que a trama continue a evoluir à medida que o filme avança. Por mais que seja sombrio, o longa se move com uma velocidade tão feroz que nos deixa ofegantes quando compreendemos quão ruim as coisas podem ficar.
No entanto, O Poço é um filme terrível, mas com temática que tem muito mais a dizer do que apenas assustar. Há uma eficiência brutal na narrativa, egoísmo e empatia são abordados, mostrando que a analogia da produção pode ser ligada ao que vivemos nos dias de hoje, em que a maioria não pensa no coletivo mas sim em si mesmo.
Prepare-se para filme impiedoso, apesar disso fascinante pela sua mensagem.
Vale a pena assistir!!
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